terça-feira, 23 de julho de 2013

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Matéria do jornal Brasil de Fato: Governador nos ares

Enquanto os cidadãos enfrentam diariamente a lotação dos trens, metrôs, ônibus e barcas e gastam horas no trânsito, o governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral está nas alturas.
O caos do transporte público não atinge o chefe do estado, já que todos os dias ele vai ao trabalho de helicóptero, um dos sete disponíveis para a cúpula de governo, todos comprados com dinheiro da população.
Além de levantar voo diariamente, gastando R$ 6 mil dos cofres públicos a cada ida ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, o governador e sua família, incluindo o cachorro Juquinha, utilizam os helicópteros do Estado para lazer.
Entrei, em parceria com outros dois deputados, com uma série de ações concretas contra o governador. Apresentamos denúncia ao Ministério Público Federal contra Cabral sobre o crime de peculato, que ocorre quando alguém se utiliza de um bem público para interesse privado.
Também estamos com uma representação no Ministério Público Estadual por ato de improbidade administrativa, que é uma investigação civil-administrativa. Já na Assembléia Legislativa, fizemos denúncia de crime de responsabilidade, com vistas a impeachment. O seja, se a presidência da ALERJ entender que existe fundamento, o governador é imediatamente suspenso de sua função, além de ter seu subsídio cortado pela metade.
As denúncias que recaem sobre o governador são graves e devem ser investigadas. A ALERJ deve deixar de ser subserviente e vinculada aos interesses do governador e precisa resgatar a coragem política para cumprir o seu papel de poder independente, cumprindo aquilo que é desejo e direito da população.

Marcelo Freixo
deputado estadual (PSOL) em Brasil de Fato, 18 a 24 de julho de 2013, ano 11, Ed. 12

sexta-feira, 12 de julho de 2013

"Bem-vindo à Copa das Manifestações"

A partir de junho de 2013 o Brasil parou diante das manifestações iniciada pelo Movimento Passe Livre contra o aumento da passagem, o movimento ganhou apoio em todo o Brasil, em pouco tempo ruas estavam sendo tomadas pela população. As manifestações não surgiram do nada, mas foi fruto da insatisfação do rumo que o país estava tomando, o povo estava cansado de tanta impunidade , de tanto descaso , estavam cansados de ver a Educação, a saúde, não ter prioridade. Um movimento iniciado contra o aumento da passagem tomou outro rumo, em busca de um “Brasil mais justo”.
Estamos em tempos de ensaio de copa do mundo, com a tal copa das confederações. Muita gente foi “despejada” (como se gente fosse dejeto mesmo) de suas casas, sob a justificativa de que novas vias tinham que ser abertas para a tal copa, as olimpíadas (e a valorização do solo urbano...). E quem vai e volta do trabalho todo dia em conduções superlotadas, gastando horas extras não remuneradas nesses trajetos, não vê nenhuma melhora em sua vida depois disso, pelo contrário. Mas, vê os governos isentando as empresas privadas do setor rodoviário de impostos e ainda assim aumentando as passagens para garantir lucros elevados. “Da copa eu abro mão, quero dinheiro pra saúde e educação”, cantam os/as manifestantes. Tudo isso em época de hipervalorização dos preços dos imóveis urbanos e dos aluguéis, aumentos generalizados dos custos da alimentação e de outros gastos essenciais para a manutenção da sobrevivência. Não há porque estranhar as vaias para Dilma.
 Podemos, porém, avaliar que há algo mais por trás desse rápido despertar das mobilizações de massa. Um caminho para tanto é localizar quais são os principais alvos das manifestações. Nos telejornais, especialmente do maior grupo empresarial monopolista das comunicações no Brasil (a Rede Globo), cujos(as) repórteres tem que se manter distantes e anônimos(as) para não serem hostilizados(as) pelos(as) manifestantes, percebe-se enorme dificuldade em manter a linha editorial do início das manifestações, que as classificava como baderna e vandalismo. Agora se veem obrigados a baixar o tom e reconhecer o caráter de massa dos movimentos. Isso porque os monopólios das comunicações são um dos alvos mais evidentes das manifestações. As pessoas reagem, ainda que de forma contraditória em alguns momentos,  contra o que percebem ser um instrumento claro de imposição de “consensos” em torno de valores que lhes são estranhos, quando não hostis, de pacificação dos conflitos a partir da valorização da repressão e da conformação à ordem dominante.
 O outro centro do descontentamento expresso pelas mobilizações é a repressão policial. Não seria errôneo avaliar que o rápido crescimento do número de pessoas nas ruas registrado hoje pode ser atribuído a uma reação contra a violência da polícia – especialmente a paulistana – na repressão as últimas mobilizações. Atos contra o reajuste das passagens hoje foram ampliados como atos em defesa do direito de manifestação. Alguns dizem que a polícia cometeu excessos, outros afirmam que ela é despreparada. Se equivocam, ou querem confundir. O simples fato de que o Estado brasileiro manteve polícias militares, mesmo após o fim da ditadura, já deve ser tomado como fator explicativo para muita coisa. E não é despreparo o que os policiais demonstram quando atiram a queima roupa em manifestantes – eles foram treinados para fazer isso todos os dias nas favelas e periferias das grandes cidades (com a diferença de que lá as balas não são de borracha...). Estão também habituados a aplicarem essa força repressiva contra todos os movimentos da classe trabalhadora que ousem ir além do papel de claque dos governantes.
 Em suma, os alvos aparentemente secundários (cada vez mais primários) dos protestos contra os reajustes das tarifas – os monopólios de mídia em seu esforço incessante por moldar corações e mentes aos desígnios da ordem do capital e o braço policial/repressivo de um Estado que nunca abdicou de sua face mais dura, na contrarrevolução permanente que caracteriza a autocracia burguesa no Brasil (para lembrarmos Florestan Fernandes) – indicam uma novidade estimulante das manifestações em curso. Elas prenunciam uma possibilidade de ampliação do dissenso, um clima de levante latente, contra as duas faces mais fortes, que combinadas trabalham para a contenção da luta de classes e caracterizam a dominação burguesa na atualidade brasileira: a imensa rede de aparelhos de criação de consensos e o nunca desmontado / sempre incrementado, aparato de coerção repressiva.

Marcelo Badaró Mattos
Professor da UFF



“Nada está perdido, se tivermos a coragem de proclamar que tudo está perdido e que devemos começar de novo.” Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino.